sábado, 8 de dezembro de 2007

Uma barragem

Anunciado com pompa e circunstância, o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico prevê a construção de 25 «aproveitamentos» (10 a construir de raiz). Padroselos, no Rio Beça, na Bacia Hidrográfica do Douro, é apenas um deles. Aqui servirá de metáfora da destruição em curso do chamado mundo rural -- esse estorvo à imagem de um país civilizado onde a inovação, os computadores portáteis e a segurança alimentar são alguns dos mais recentes e luminosos ícones.

Num lugar onde o Estado se demitiu há muito de fazer investimentos em favor de quem teimosamente vai insistindo em ficar -- uma paisagem excepcional, um conjunto alargado de recursos endógenos ímpares vão desaparecer ao serviço do Protocolo de Quioto e da redução dos gases com efeito de estufa.

É tempo de dizer que a ruralidade não pode ser considerada como o empecilho à modernidade; e que não há modernidade possível para o nosso país, nem um desenvolvimento equilibrado, nem uma mais justa e equitativa distribuição de riqueza, se a factura a pagar for a destruição do mundo rural.

Aqui, em breve, juntar-se-ão alguns cidadãos que se recusam a assistir em silêncio à devastação do que mais profundamente nos pertence. O Negrilho será apenas uma das suas vozes.

Até breve.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pela sua resistencia! O mundo rural continua vivo na memoria dos emigrantes espalhados pelo mundo, que apesar de o deixarem para escapar a miseria continuam a considerar esse mundo o verdadeiro Portugal, aquele que tiveram de deixar para poder viver uma vida mais digna. Talvez a sua voz tenha mais eco nos Portugueses que vivem fora de Portugal do que nas cidades do litoral, que sempre se alimentaram da babugem dos imperios e das remessas dos que emigram.