terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Aqui não existem trutas

Penso que já não existe nenhum restaurante no nosso país em que as trutas constem da ementa. Claro que falamos da Salmo trutta, e nomeadamente da subespécie fario, e não da truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss), ou de aviário, que compramos a olho e ao quilo nos viveiros e nos hipermercados. Certo que havia o mítico Santa Cruz, em Boticas, mas o Santa Cruz acabou e os milagres não se repetem.

Não surpreende: porque a truta é das espécies dos nossos rios mais sensíveis às intervenções antrópicas, à poluição das águas, às alterações da ecologia do meio aquático. De acordo com o Sistema de Informação do Património Natural, o estatuto de conservação da truta é considerado como «vulnerável». O que a experiência empírica nos ensina é isso mesmo: a truta é cada vez mais rara nos nossos rios, desaparece dos troços sujeitos a artificialização e diminui quando a poluição avança ou quando se verificam acções que resultam na fragmentação ou empobrecimento dos habitats.

Curiosamente, o estudo de Avaliação Ambiental Estratégica do PNBEPH (esse mesmo que considera «provável» a presença da enguia nesta bacia hidrográfica, quando toda a gente sabe que a enguia é uma espécie abundante nestes troços de rio…), curiosamente, dizia-se, este estudo não tem uma única referência à truta…

Estas omissões não são aceitáveis e demonstram, a não haver má-fé, a ligeireza e falta de rigor de todo este processo.

Se vamos delapidar irreversivelmente recursos ímpares, ao menos faça-se a justiça de inventariar pormenorizadamente o espólio dos danos para que nos seja permitido compreender a verdadeira dimensão do crime.

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